20 abril 2011

Novo site

Enquanto não escrevo os milhentos posts que este autor merece, deixo-vos o novo site dele.
www.oliverjeffers.com

Livros que gostaríamos de ver por cá

GRAVETT, Emily, Monkey and Me, Londres, Macmillan Children's Books, 2008

Este livro de Emily Gravett destina-se aos mais pequenos. Com um texto muito simples, em tom de lenga-lenga — "Monkey and me,/ Monkey and me/, Monkey and me,/ We went to see,/ We went to see some..." — e umas fantásticas ilustrações que seguem a mesma linha — apenas se retratam as personagens e os animais — mostra uma brincadeira entre uma menina e o seu boneco. Nas primeiras páginas par e ímpar estão o texto e a menina com o seu macaco de peluche a imitarem os animais que dizem ter ido ver, nas duas páginas seguintes, estão o nome e o animal correspondentes.
Simples, mas muito divertido, este livro presta-se, não apenas a ser lido, mas também jogado, por outro lado, a facilidade com que se aprende o texto — por cá usa-se a tradução "O macaco e eu,/ O macaco e eu,/ Fomos,/ Fomos ver..." — vai ainda permitir que as crianças o "leiam" sozinhas ou que um irmão mais velho o faça. 

Embora ainda não tenha sido publicado por cá, espera-se que o lançamento este ano de outros dois livros desta premiada autora para um público mais velho — O Lobo Não Morde e o Grande Livro dos Medos do Pequeno Rato — pela editora Livros Horizonte seja apenas o princípio de uma grande colecção de livros de Emily Gravett em português.


(Pinguim)

(Canguru)

(Morcego)

Se encomendar este livro pela internet, existem três edições diferentes, uma grande (mesmo grande) para uso em aula, uma de capa mole com um formato tradicional e, por fim, uma de capa dura com papel cartonado.

17 abril 2011

Espelho meu, espelho meu, haverá alguma princesa mais excêntrica do que eu?

ou "tudo o que sempre quis saber sobre princesas, mas teve medo de perguntar"


LECHERMEIER, Philippe e DAUTREMER, Rébecca (il.), Princesas Esquecidas ou Desconhecidas, V.N. de Gaia, Editora Educação Nacional, 2007, pp. 95

Comprar e recensear este livro de Philippe Lechermeier e Rébecca Dautremer cria vários problemas. Por um lado (e começando com a recensão), requer um esforço tremendo para conter o excesso de verborreia, de adjectivação positiva, a transcrição ipsis verbis das inúmeras frases memoráveis e a colagem exaustiva de imagens — como podem ver, nem a contenção se apregoa com parcimónia... Por outro, ao comprar o livro e folheá-lo, deparamo-nos com três grandes dilemas (sim, é um problema comum referido em inúmeras outras recensões); primeiro, o livro é lindo, dá vontade de o expor na mesa da sala, como objecto de arte que é, segundo, embora seja para um público mais velho — a partir dos 8 anos —, imaginá-lo a ser lido no chão, na cama, manuseado com a familiaridade que se deve, transportado de um lado para o outro, etc. é o pesadelo de qualquer adulto — é uma obra de arte!—, e, por fim, há ainda que refrear os instintos assassinos que nos impelem a escortanhar o livro todo para fazer quadros para pôr nas paredes. Enfim... é um DESSES livros.

Posto isto, este livro de princesas, não é, de forma alguma, mais um livro de princesas, é O livro DAS princesas. Como já foi referido, o público-alvo será, provavelmente, constituído por raparigas a partir dos 6/7 anos, mas são as mais velhas — 8 a 10 — que vão conseguir explorar melhor as várias leituras possíveis desta obra. Grande — maior que um A4 e com 95 páginas —, as Princesas Esquecidas ou Desconhecidas estão organizadas de forma enciclopédica. Cada página corresponde a uma ou duas princesas e, quase sempre, temos o texto na página par e a ilustração correspondente na página ímpar. A cada entrada corresponde também uma frase/citação/máxima da autoria de Philippe Lechermeier. Embora sejam todas dignas de nota, citamos algumas, para melhor ilustrar o tom deste livro:

"Sonhar é contar histórias que ainda não se conhecem.", p.10 (Preguiçosa)

"Um capricho não é mais do que uma faísca de mau humor.", p.22 (Caprichosa)

"Quando me esqueço de algo, é uma ideia a brincar às escondidas dentro de mim.", p.36 (Amnésia)

No que toca a estas princesas que a história esqueceu ou ignorou, há para todos os gostos, de todas as etnias, boas, más, bonitas, feias, tagarelas, mimadas, ou apenas excêntricas. Escrito com muito humor, este livro será uma desilusão para as meninas mais pequenas que ainda vivem no mundo das princesas perfeitas cor de rosa e cintilantes das histórias mais tradicionais. No entanto, para as que já estão a ultrapassar essa fase será uma descoberta fascinante, tanto pelas inúmeras leituras possíveis, como pelo estímulo que proporcionam à criatividade e imaginação. O que é apresentado aqui é um mundo sem as características fronteiras do real ou do credível, onde se pode fazer humor sobre nós próprios e sobre as convenções, sem por isso as estarmos a criticar ou rejeitar. 
No entanto, esta enciclopédia não se limita às personagens que trata, é um trabalho exaustivo sobre tudo o que as rodeia e o seu mundo. Como todos sabemos a história da vida de uma princesa começa no berço, e é exactamente essa a primeira entrada, que nos elucida sobre a concepção e apresentação aos amigos da família de tão ilustre criatura, seguem-se ainda espaços tão importantes como a floresta, o jardim ou o amuadouro, personagens como a madrasta, o príncipe ou a confidente, os animais de estimação, os brasões, entre muitos outros. 
No final, encontra-se ainda um guia prático com truques e astúcias para "distinguir uma verdadeira princesa de uma falsa", "acordar princesas adormecidas", ou "calar uma princesa", anúncios de cursos, alugueres e moradas úteis, um teste, provérbios —"É preciso desconfiar da princesa que está a dormir" (provérbio de Grimm), p.88 —, um léxico de expressões usadas pelas princesas — "Ter um sapo ao lume: Estar com pressa, atrasada", p.89 —, uma bibliografia e vários índices. 
De louvar é ainda a tradução/adaptação, da autoria de Lucília Carvalho,  deste difícil texto recheado de intertextualidades, remissões, rimas internas e frases irónicas com segundos sentidos.

"As princesas são contagiosas" (Provérbio surrealista, p.88) e acredite que este é, sem dúvida um dos livros que faltam na biblioteca das suas filhas — ou até mesmo na sua. Depois de saber que existe, acha que pode sobreviver sem saber o que esconde a torre da princesa, como é que se usa uma amuadeira, quais os segredos da famosa princesa com ervilhas?

Viagens, pp. 42-43
"Ser a mesma noutro lugar muda tudo"

Confidente, pp. 34-35 
"Os segredos estão guardados mas o seu único desejo é fugir"

Princesa das Areias, pp. 48-49
"Um dia recolhi no meu jardim o véu vermelho de uma princesa longínqua"

Ólhameh, pp.82-83
"Um dia tão luminoso como uma estrela na noite" 

Se quiser saber mais sobre o livro, pode consultar o site em inglês. Ambos os autores têm páginas pessoais: Philippe Lechermeier (em francês)  Rebécca Dautremer (em francês ou inglês).

De ambos existe ainda o Diário Secreto do Pequeno Polegar também da Editora Educação Nacional que será objecto de um post nas próximas semanas.

13 abril 2011

Fnéc Még assim? Não, obrigada!



Eu até pertenço àquela minoria que chama "lugar do demo" à Fnac, tenho cartão e o dom de me desgraçar sempre que lá vou. Por estes motivos (e mais uns quantos) acho inacreditável a secção dedicada às crianças nesta revista (tanto no nº 1, como no nº 2). Embora tenha sido resgatada das últimas páginas (no número de Março), a qualidade/quantidade dos produtos expostos mantém-se. Ora vejamos então o que estes senhores — que agora até têm um cartão Fnac Kid — acham que são os produtos a apresentar aos clientes mais novos:

Com 20% de desconto:
- Colecção Gerónimo Stilton
- Colecção Joe Carrot (dos mesmos autores de G. S.)
- Colecção As Gémeas (Enid Blyton)

Leve 3 Pague 2:
- Colecção Dora, a Exploradora
- Colecção Cherub
- Colecção Bolinha

Filmes:
- Entrelaçados
- Barbie
- Sammy

Jogos:
- Nintendo 3DS
- Pack acessórios Keith Kimberlin cão
- 2 jogos Pokémon

Música:
Relegada para um cantinho de uma página (sim, puseram 3 CD's de música clássica no primeiro número e agora querem mais?!?), sem texto e com fotos de séries e desenhos animados do canal panda)

Em pé de página (tipo nota) há dois eventos e três promoções especiais Fnac Kids.

Não tenho nada contra os "best sellers" acima referidos, mas não haverá nenhum livro novo, interessante e pouco conhecido?
Será preciso ocupar quase uma página inteira (se acrescentarmos o do topo da primeira página ao fim da segunda) com anúncios e fotos?
Se têm uma secção dedicada a consolas e jogos, será mesmo necessário anunciar mais jogos aqui?
Se os filmes e os jogos têm direito a texto, os livros e CD's não têm, porquê?

Mas, "Ler faz bem!" (título da p. 14) e acima de tudo, se lermos o Editorial ficamos a saber que "porque ler faz crescer, guard[aram] um cantinho muito grande para os mais pequeninos, onde o melhor da literatura lhes permitirá o desenvolvimento da imaginação e do conhecimento." (p. 3). A ideia está lá, resta-nos a esperança!

De resto, a revista fala por si — ou cala por si.

Com tanto funcionário competente nessa secção, talvez pudessem falar com eles ou fazer um daqueles destaques, como existem noutras secções da revista, com as escolhas deles. Sei lá, qualquer coisa, arrisquem, que pior é difícil.

07 abril 2011

O monstro mais assustador do mundo conhece o menino mais assustadiço do mundo


WILLEMS, Mo, Leonardo, o Monstro Terrível, Lisboa, Orfeu Negro, 2010

E quem disse que "quanto mais melhor"? 
Este livro de Mo Willems publicado na colecção Orfeu Mini é a prova de que o minimalismo às vezes resulta e resulta (neste caso, pelo menos) muito bem. Com um máximo de duas frases curtas por página e umas ilustrações que se centram sobretudo nas personagens — não há cenários, nem adereços que não sejam necessários à história — este livro conta como Leonardo, o monstro, conhece Samuel, o menino, e se tornam amigos. Tudo com imenso humor, desde a descrição da falta de jeito e dotes físicos do Leonardo para ser assustador, a forma como decide resolver o seu problema vocacional, até à resposta de Samuel quando se encontram (hilariante), ou à relação que se cria entre eles. Divertidíssimo.

O Leonardo era um monstro terrível...

Não conseguia assustar ninguém.

O Leonardo tentava arduamente ser assustador. 
Mas... Na verdade, não era.